O Carro Mais Importante dos Próximos 100 Anos

Mais uma vez, o que aqui procuro é deixar algumas considerações e suscitar alguma curiosidade, para que possam, também, fazer uma breve reflexão sobre o que aqui é escrito. O assunto que irei abordar, desta vez, diz respeito ao ambiente. Num momento em que a discussão acerca do aquecimento global, das emissões de carbono para a atmosfera e das alterações climáticas estão no topo dos grandes assuntos, a indústria automóvel é uma das que tem acompanhado com mais atenção a evolução da situação, procurando defender os seus interesses. Se por um lado, e face à ameaça da escassez dos recursos petrolíferos, algumas companhias começam a vislumbrar uma enorme oportunidade, apostando em veículos movidos a energias alternativas e renováveis, por outro, outras companhias tentam resistir, de algum modo, ao facto de o petróleo ter de deixar de ser a única solução.

Quando no outro dia estava a ver um episódio do Top Gear, programa da BBC dedicado à indústria automóvel, observei, com especial atenção, a análise que fizeram ao novo modelo da Honda, o Clarity, que, pelos vistos, apenas se encontra disponível no Estado norte-americano da Califórnia. Este carro, movido a hidrogénio, surge como uma primeira e verdadeira alternativa aos carros movidos a derivados do petróleo, aparentando ter, já, uma interessante fiabilidade e qualidade. Para além disso, os engenheiros e designers da Honda preocuparam-se com outros dois aspectos interessantes, e que muita importância têm aquando da escolha de um automóvel: a performance do veículo e o seu design. De facto, ambos os aspectos são muito bem conseguidos pelo Clarity, o que poderá ser um primeiro sinal de que as companhias começam a estar preparadas para responder às necessidades de um mercado tão competitivo como é o mercado automóvel.

No entanto, o aspecto mais interessante do episódio do Top Gear, foi a ideia de entrevistarem uma famosa personalidade da televisão norte-americana, Jay Leno, também conhecido pela sua paixão aos automóveis e pela colecção de veículos que tem. A verdade é que ele lançaria uma ideia nova e uma perspectiva diferente sobre o facto de ser necessário substituir a gasolina como a principal fonte de consumo dos automóveis. De facto, para qualquer apaixonado por automóveis, a potência e performance que a gasolina dá aos super-carros é algo insubstituível, pelo menos para já, e é essa questão que leva muitas pessoas a resistir à compra de veículos que apresentem alternativas, que implicam a perda de potência dos carros, e a ausência daquele barulho poderoso do motor a queimar gasolina.

Jay Leno diria, então, que não estaria preocupado com essa situação. Inclusivamente, afirmaria que as pessoas iriam chegar à conclusão que os carros movidos a energias alternativas seriam os ideais para conduzir no dia-a-dia e seriam a escolha óbvia para quem quisesse ir para o trabalho. Ora, que fazer aos carros movidos a gasolina? Fácil, os apaixonados de carros e donos de veículos de alta cilindrada deveriam começar a encarar esses carros como puramente recreativos e não como veículos de transporte. Para justificar esta ideia, Leno fez uma analogia com os cavalos. De facto, o cavalo era utilizado, antigamente, para todo o tipo de serviços, para transporte de pessoas e, inclusivamente, para os trabalhos pesados, à semelhança do que acontece com o gado bovino. No entanto, com a introdução dos veículos a motor, que começou a substituir o cavalo nesses trabalhos, estes animais passaram a ser considerados animais especiais, disponíveis apenas para a elite da sociedade, sendo utilizados, quase exclusivamente para procriação e efeitos recreativos.

Tenho a dizer que acho esta perspectiva genial, e ainda com mais interesse por ser defendida por alguém que ama o American Muscle. De facto, esta é a ideia que se tem de difundir pelas pessoas. Os carros a gasolina deixaram de ser fiáveis, de ser solução, porque os combustíveis fósseis são cada vez mais escassos e alternativas terão de ser introduzidas. Para isto acontecer, no entanto, o papel das grandes empresas de automóveis é preponderante, pois apenas com a consciencialização que os novos carros terão de ser movidos a energias alternativas é que as pessoas passarão a consumir mais esses bens. Nesse sentido, quer-me parecer que as empresas nipónicas são as mais bem preparadas e as que mais irão ganhar quando o resto das empresas quiser tomar o mesmo caminho. A oportunidade está aí, à nossa porta. Agora, só nos resta saber quem a vai aproveitar.

Concordo, portanto, com aqueles que dizem que este novo modelo da Honda será o mais importante dos próximos 100 anos, pois significa uma tomada de posição por parte da empresa e um ponto de viragem na indústria automóvel.

Comments
3 Responses to “O Carro Mais Importante dos Próximos 100 Anos”
  1. Salu diz:

    Este tema, tem todo o interesse dada a continua e cada vez maior escassez de recursos fosseis… gostei a abordagem ao tema…

    Quanto ao carro, este deve ser apenas um inicio para a construção de equipamentos mais “amigos do ambiente”.

    O carro está fantástico, lindo em termos estéticos e pensado a muitos pormenores.

  2. ivandpj diz:

    Concordo….e discordo.

    Concordo com a maior parte: as soluções alternativas DEVEM ser encaradas como prioritárias. O petróleo, como bem finito que é, causador, em larga escala, dum problema universal como é o aquecimento global (embora estudos comprovem que existem outros causadores, com maior e mais nefasta influência) tem de ser encarado como aquilo que é: um bem escasso e caro. Infelizmente os lobbies politico-económicos irão sempre ser um entrave ao progresso e ao desenvolvimento tecnológico, mas poderemos contar sempre com a consciencialização (ou alarmismo desmesurado) que as sociedades modernas têm vindo a ganhar, cada vez mais nos últimos anos, relativamente ao problema ambiental.

    Apenas não concordo (se o autor me permite) com o facto de considerar este o carro mais importante do século. Entendo o porquê dessa conotação (o primeiro carro alternativo na sua plenitude: desde o design, potência e ao consumo energético), mas, a meu ver, aquilo que não o torna (ainda) numa real alternativa é o preço.

    Aliás, este é o verdadeiro problema dos automóveis alternativos (sejam eles movidos a hidrogénio, eléctricos ou mistos). Principalmente no estado actual da economia mundial, este automóvel acaba por ser um produto caro, apenas acessível às classes A ou A/B, o que dificulta a sua massificação. Mas é um passo importante, sem duvida. Fica a questão de até quando teremos de esperar para ter uma alternativa real e mais acessível.

  3. João Vítor Redondo diz:

    Claro que permito que discordes de mim, aliás, não posso deixar de concordar com a tua argumentação. Mas, já agora, cumpre-me esclarecer que essa consideração pertence ao próprio apresentador do programa Top Gear, como se pode ver no vídeo. Apenas a aproveitei, exactamente para causar mais “barulho”.

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